


Tese de Gislaine Nascimento da Silva Perez apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de DOUTORA em Comunicação e Semiótica sob orientação do Prof. Dr. Amálio Pinheiro. Área de concentração: Signo e Significação nos Processos Comunicacionais. Linha de pesquisa: Processo de Criação em Comunicação e na Cultura.
Banca examinadora (da esquerda para direita):
Professor Dr. Luís Fernando dos Reis Pereira, Dr. Urbano Nobre Nojosa, Dr. José Amálio de Branco Pinheiro (orientador), Dra. Valdenise Lezier Martyniuk, Dra. Mylene Goudet.
RESUMO
A presente pesquisa se trata de um trabalho pluridisciplinar que se insere no campo do conhecimento das artes visuais. Tem em seu escopo teórico-metodológico os conceitos de semiótica da cultura, semiosfera, imprevisibilidade, explosão e memória de Iuri Lotman; cultura, barroco, mestiçagem e memória de Amálio Pinheiro; e complexidade e memória de Edgar Morin. Utiliza o método sintático e comparativo para mostrar a importância das conexões múltiplas em cada obra. O objetivo da pesquisa é estudar e registrar o processo criativo upcycling atuando em conjunto com procedimentos artesanais, na transformação de um signo em outro signo. A problemática da pesquisa parte do fato de que embora cada área do conhecimento das artes visuais guarde sua especificidade, podemos dizer que o upcycling é um tema comum e transversal entre elas, ou seja, corresponde a questões importantes, urgentes e presentes na nossa vida cotidiana e no meio ambiente. As atividades e atitudes dirigidas às muitas formas de preservação e sustentabilidade da vida natural e das suas materialidades (plantas, vegetação, frutas e objetos de toda ordem e variação) bastam-se com os discursos oficiais e/ou das mídias e redes sociais digitais ou, com outro enfoque (aumentando o campo de exigência e complexidade), cobram modos de composição, relação e conexão – semelhantes às demais linguagens de criação – que, indo além ou até impugnando o próprio lugar-comum dos ditos discursos e passando ao largo da batida dicotomia entre preservação/degradação, enfim dedicam-se a incorporar a natureza à cultura através de traduções múltiplas já distantes do âmbito evolutivo, linear e progressivo do capitalismo? A hipótese, que surgiu com a pesquisa empírica, é de que existe uma intercomunicação entre as áreas de arquitetura, design de interiores e moda que envolve questões importantes como: preservação dos recursos naturais, sustentabilidade, qualidade de vida, consumo consciente, ético e socialmente justo, resgate do fazer artesanal e da cultura local. Há também uma prática nas redes sociais digitais, Youtube e Instagram, de compartilhamento e divulgação de processo e procedimentos artesanais e artísticos que são resgatados por meio de memórias afetivas e que foram ampliadas com a pandemia da Covid-19, objetivando amenizar os danos causados com o isolamento e o distanciamento social. Para responder a essas questões a autora direcionou o estudo empírico à modalidade de pesquisa segundo a abordagem qualitativa, de natureza aplicada, bibliográfica e participante. Assim, enquanto pesquisadora, participou do processo de criação, conduzindo e interagindo com os procedimentos e resultados. Sendo assim, concluiu-se que o processo de reutilização criativa upcycling nos possibilita ressignificar materiais e produtos que seriam descartados, jogados no lixo, transformando-os em peças únicas, de maior valor e/ou qualidade, sem passar por procedimentos químicos de reciclagem, resgatando memórias e colocando em prática o fazer artesanal, o “faça você mesmo”. Para tanto, o método de conexão sintática e comparativa é importante porque mostra a importância das conexões múltiplas em cada obra, que nem todo o upcycling pode realizar, pois às vezes a relação sintática encontrada provoca um entrosamento maior ou menor entre os elementos que estão em jogo, entrosamento não mencionado pela mídia e redes sociais. Por meio do método sintático e
comparativo podemos observar uma relação mais propiciadora de significações múltiplas. O trabalho é dividido em três capítulos: o primeiro trata o Upcycling em seu estado da arte; o segundo aborda práticas barroco-mestiças nas artes visuais, discutindo a ressignificação dos materiais, memórias e procedimentos artísticos; e o terceiro trata das relações entre a semiótica da cultura e a feira livre, espaço habitado por signos da cultura.
Palavras-chave: upcycling; feira livre; semiótica da cultura; barroco-mestiço; memória; artes visuais.