“Terra” Um Regate a Ancestralidade – por Gabriela de Matos e Paulo Tavares, arquitetos e curadores do Brasil.
O pavilhão do Brasil na Bienal de Veneza, 2023 propõe repensar o passado e desenhar possíveis futuros. “O futuro é ancestral”. – Frase de Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas ecoou de modo fundamental para a construção do pavilhão, que possui ressonância com o Brasil de ontem, hoje e do que está por vir, baseando-se na diversidade cultural, colocando o público em contato direto com a tradição dos territórios indígena, quilombolas e candomblés. Segundo os arquitetos, o prédio possui traços modernistas em contraste com elementos de habitações populares brasileiras, caso dos gradis com símbolos sankofa, pertencente a um sistema de escrita africano denominado Adinkra, dos povos açã da África ocidental, que foi muito usado nos desenhos de gradis, podendo ser visto em grande parte das cidades brasileiras, e que significa: “olhar para o conhecimento de nossos antepassados em busca de construir um futuro melhor”. A primeira galeria do pavilhão modernista é chamada pelos curadores de “De colonizando o Cânone”, mostra que Brasília foi construída sobre um território ancestral, indígena e quilombola. As obras que preenchem a galeria são compostas por projeções audiovisuais da cineasta Juliana Vicente criada em conjunto com a curadoria, passando por uma seleção de fotos de arquivos, organizadas pela historiadora Ana Flavia Magalhães Pinto, ao mapa etno-histórico do Brasil de Curt Nimuendajú e o mapa Brasília Quilombola comissionado especialmente para mostra. Na segunda galeria “Lugares de Origem, Arqueologias do Futuro” a sustentabilidade e arquiteturas naturais se fazem presentes no paisagismo e em projeção de vídeo de Ayrson Heráclito, que se volta às memórias e arqueologia da ancestralidade, ocupada por projetos e práticas socioespaciais de saberes indígenas e afro-brasileiros a cerca da terra e do território.